Dificilmente alguém discordaria da ideia de que
“beijo é bom”. Tão bom que, não bastasse ser categorizado quanto aos “tipos”
(“selinho”, “de esquimó”, “técnico”, “de novela”…) e de frequentemente ser cada
vez mais evidenciado nos refrões de inúmeras músicas, já ganhou até dia próprio
(12 de abril)! Beijar movimenta 29 músculos e queima aproximadamente 12 calorias.
Mas, em apenas um beijo, duas pessoas trocam, em média, 250 bactérias e podem
transmitir ou contrair doenças perigosas como a gripe H1N1, conhecida como
gripe suína.
Popularmente, porém, diz-se que “tudo que é bom é
ilegal, imoral ou engorda”. Não que este seja o caso do beijo, mas a verdade é
que ele realmente pode transmitir algumas doenças, de modo que são necessários
alguns cuidados na sua prática, já que os problemas podem ir desde um simples
resfriado ao contágio da meningite, assim como também se estendem a outros que
muitas pessoas acreditam só serem adquiridos sexualmente.
Segundo os especialistas, ocorre que existem doenças
que se valem da troca salivar como um meio de contaminação, e, dada ser úmida e
escura, a boca é o local propício para que os organismos que a habitam se
desenvolvam. Desta perspectiva, a cavidade oral pode ser considerada uma “porta
de entrada” para que nela se instalem diferentes bactérias e vírus.
A chamada “doença do beijo”, por exemplo,
cientificamente denominada “mononucleose”, é uma dessas doenças. Uma vez
infectado pelo vírusEpstein-Baar (EBV ou HHV-4), que permanece incubado no
organismo de 30 a 45 dias, o indivíduo terá essa enfermidade permanentemente,
podendo repassá-la a outras pessoas, tanto por meio do beijo quanto pelo
compartilhamento de objetos contaminados e também pela transfusão de sangue.
Infelizmente, a maior parte daqueles que a têm desconhece esse diagnóstico,
pois, além de não deixarem sequelas, os sintomas da mononucleose são muito
similares aos da gripe e/ou aos de outros males característicos principalmente
do inverno, incluindo-se aí febre persistente, tosse, perda de apetite,
calafrios, indisposição, etc.
Para que uma pessoa saiba se tem ou não a “doença
do beijo” é preciso que sejam realizados alguns exames laboratoriais. Como nas
demais viroses, a terapêutica se dá com a prescrição de antitérmicos,
analgésicos, anti-inflamatórios e repouso.
Quando constatada a doença, é bastante comum que o
paciente não se lembre de haver se relacionado com alguém que possa tê-lo
contagiado, mas, a partir de então, a sua conscientização é absolutamente
fundamental para que outros não continuem a sê-lo, mesmo porque uma forma de se
prevenir a transmissão encontra-se justamente associada à relação com um(a)
único(a) parceiro(a), posto que, neste caso, quanto mais beijos com múltiplos
“desconhecidos”, pior.
Outro vírus transmitido pelo beijo, de modo muito
recorrente, é o do herpes, cujos sintomas são locais. Surgem lesões cutâneas em
torno dos lábios, nas quais se encontra um líquido claro ou amarelado, formando
pequenas crostas que, quando se rompem, podem causar coceira, ardor e formigamento
– incômodos estes que costumam durar uma semana. Assim como em relação à
mononucleose, também não existe cura para essa doença, que pode se manifestar
anos mais tarde, em ocasiões em que a imunidade da pessoa esteja baixa. E,
quanto ao tratamento, este se dá com a prescrição de antivirais.
De acordo com um estudo empreendido por médicos
australianos, a meningite meningocócica (inflamação das meninges causada pela
bactéria Neisseria meningitidis, também conhecida como “meningococo”) é uma
doença cujo potencial de contágio pode ser aumentado em até 4 vezes para quem
costuma beijar múltiplos parceiros (e, aqui, estima-se que “múltiplos
parceiros” correspondam a uma média de 7 pessoas num prazo de duas semanas).
Como se sabe, a meningite provoca febre, dor de cabeça, vômitos, diarreia e
rigidez em alguns músculos, podendo causar danos neurológicos irreversíveis
(como, por exemplo, a surdez) e ser até mesmo fatal (se não diagnosticada
precocemente), embora existam medicamentos adequados para combatê-la e, ainda,
a prevenção por meio de vacinas.
Outra que consta entre as principais doenças
transmitidas pelo beijo é a sífilis. Conforme já é do conhecimento comum,
trata-se de uma doença sexualmente transmissível, de modo que contraí-la por
meio do beijo não é algo tão frequente, conquanto possa ocorrer, desde que o
indivíduo com sífilis tenha uma ferida/lesão nos lábios ou na própria boca. Em
relação aos seus sintomas, ela provoca o surgimento de ferida indolor na
gengiva, nos órgãos genitais e nas palmas das mãos e dos pés, além de febre,
dor de cabeça e pelo corpo, dor de garganta, tosse e manchas avermelhadas,
chegando até a alterar o sistema nervoso central. No entanto, mesmo sem
tratamento (feito à base de antibióticos), todos eles podem desaparecer; porém,
a bactéria Treponema pallidum permanecerá no organismo, com a possibilidade de,
quando não combatida, provocar graves danos permanentes ao coração e ao sistema
nervoso, podendo até mesmo fatal.
Ainda em relação ao tema das doenças cuja
contaminação se dá por intermédio do beijo, existem outras associadas, entre as
quais estão a cárie, a gengivite, a faringite, a laringite e a amigdalite
(originadas por bactérias), bem como a gripe (incluindo-se aí a H1N1 – “gripe
suína” –, que, em comparação a 2009, hoje está bem menos frequente, mas não
erradicada), a tuberculose, a hepatite e o HPV (causados por vírus).
Assim, embora na maioria das vezes o beijo seja
considerado “inofensivo”, é importante estar atento às enfermidades que podem
ser desencadeadas por esta ação tão prazerosa, sobretudo quando não praticada
exclusivamente com um(a) único(a) parceiro(a), situação em que o risco de
contaminação de bactérias e/ou vírus transmitidos por meio da troca salivar é
potencialmente aumentado.
Consultar-se regularmente com o cirurgião-dentista
também é uma medida fundamental não apenas para a manutenção da saúde bucal
(seguindo-se com a correta escovação dos dentes, o uso diário do fio dental, a
utilização de enxaguatórios bucais…), mas, tendo em vista que tudo no nosso
organismo se inter-relaciona, para a preservação da nossa saúde em geral. E,
nas proximidades do carnaval, quando conjuntamente à comemoração
descompromissada que caracteriza a folia costumam surgir novos “hits” que
incentivam o beijo, considerando a ideia de “quanto mais melhor”, o tema acerca
das doenças por ele transmitidas precisa ser levado adiante, esclarecendo
especialmente os jovens, já que, da perspectiva da saúde, prestigiar-se a
respeito do número de pessoas com as quais se ficou/beijou numa única noite ou
num curto período de tempo pode se tornar uma conquista bastante
comprometedora, passada a comemoração inicial.
“Beijar é uma delícia. Mas antes de sair
por aí distribuindo beijos, é bom saber que, ao contrário do que se pensa, esse
não é um carinho assim tão livre de consequências.”